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quarta-feira, 22 de abril de 2020

Rino Malzoni

Se tudo corresse como se esperava, ele teria se contentado com as plantações de cana. Mas Rino Malzoni atropelou a lógica e, por gosto, passou a desenhar carros esportivos em sua fazenda na cidade de Matão, a 320 quilômetros da capital paulista. Foi a gênese da Puma, a principal fábrica de esportivos do Brasil, que produziu 20 mil automóveis e os vendeu não só aqui, como também exportados para 50 países.

Essa história agora é resgatada pelo livro “Rino Malzoni, uma vida para o automóvel”, do jornalista Jorge Meditsch. Publicado pela Editora Alaúde, o tomo de 156 páginas (R$85) foi escrito a pedido de Kiko Malzoni, filho do carrozziere ítalo brasileiro. Reúne fotografias, aspectos técnicos e fatos hoje quase esquecidos.

 Nascido na Itália em 1917, Genaro Domenico Nuncio Malzoni chegou ao Brasil aos cinco anos de idade. Diferentemente da maioria dos imigrantes, vinha de uma família rica, que se instalou em Matão.Foiláque,em1953,seupaicomprou a Fazenda Chimbó, com plantações variadas e um engenho para produzir cachaça.

 Desde sempre, Rino (como era chamado o jovem Genaro) gostava de mecânica. E, como dinheiro não era problema, mexia e fazia modificações estéticas em todos os carros que tinha.

 Um dia, já quarentão, resolveu desenhar e construir um automóvel inteiro, para uso próprio. Eram os tempos de florescimento da indústria automobilística brasileira e a mecânica escolhida foi a do DKW-Vemag nacional, com motor de três cilindros e dois tempos.

Dos primeiros cupês moldados em chapa, entre 1962 e 1963, Rino passou a fazer carrocerias de fibra de vidro para um carro criado especificamente para correr. Era o GT Malzoni, encomenda da Equipe Vemag de competições. Com seu motorzinho de 1.000 cm³, teve resultados brilhantes a partir de 1965, apesar de enfrentar supercarros. E ganhou uma versão de rua, com acabamento esmerado.

 Do galpão da fazenda saiu até o Carcará, feito para bater um recorde de velocidade. Enquanto era construído, parecia uma nave espacial taxiando em Matão.

A partir do GT Malzoni, fez-se o Puma. Inicialmente tinha mecânica DKW. Depois, ganhou base Volkswagen. Rino bancou uma boa parte da criação da fábrica e acabou saindo da empresa em 1974, após desavenças com os outros sócios.

O carrozziere de Matão morreu de problemascardíacosem1979.
 —Nos anos 60 e 70, o Brasil ainda tinha a ambição de fazer uma indústria de automóveis genuinamente nacionais. Chegamos a isso com a Puma e, também, com a Gurgel. Podia ter dado em alguma coisa, mas perdemos tudo. Umapena—lamenta Meditsch, o autor do livro.

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GT Malzoni,1965: Com carroceria de fibra de vidro, o leve cupê conseguia enfrentar os supercarros da época com seu motorzinho de três cilindros. Na imagem acima, o Malzoni número 96 do piloto Norman Casari aparece em duelo contra um Karmann-Ghia Porsche da Equipe Dacon, com Emerson Fittipaldi, nas 3 Horas da Guanabara de 1967. No alto da página, Rino, o filho Kiko e a esposa Anita.

Puma,1968: Com o fim da Vemag, em 1967, os Puma de primeira geração, com motor DKW e tração dianteira, perderam o fornecedor da parte mecânica. A solução foi fazer uma nova carroceria para vestir um chassi de Karmann-Ghia, com motor VW “a ar” na traseira.

GT DKW-Vemag,1963: Este cupê 2+2 foi o primeiro carro feito por Rino Malzoni com o auxílio de Chico Valda, o homem-chave da oficina na Fazenda Chimbó. Tinha carroceria de chapa.

Onça,1966: Inspirado nos primeiros Ford Mustang, o Onça foi criado a pedido da Fábrica Nacional de Motores com mecânica dos Alfa Romeo feitos em Xerém. Estima-se que oito carros foram feitos.

Matão,1968: O primeiro protótipo do Puma com motor Volkswagen, ainda com carroceria de metal, no dia em que ficou pronto. No rústico galpão na Fazenda Chimbó nascia uma lenda: o Puma se tornaria o esportivo mais famoso do Brasil e seria exportado para 50 países.

Carcará, 1966: A Equipe Vemag estava nas últimas, mas seu diretor, Jorge Lettry, decidiu fazer um carro de recordes. A encomenda foi feita a Rino Malzoni, que desenhou com Anísio Campos uma carroceria aerodinâmica. Chico Valda e Pedro Molina executaram a tarefa, moldando curvas de alumínio em Matão. Batizado de Carcará, o carro com motor de apenas 1.089cm³ alcançou 212km/h no início da Rio-Santos, hoje Avenida das Américas. Era pilotado por Norman Casari e conquistou o primeiro recorde brasileiro de velocidade absoluta pelos padrões da FIA. Na foto, Rino está de boné.

PumaGTB,1974: No começo dos anos 70, a Puma crescia rapidamente. Rino partiu para um novo projeto: um esportivo com mecânica do Opala. O carro foi apresentado ao público em 1972, mas só começou a ser vendido em 1974. No mesmo ano, Rino deixou a fábrica após conflitos com os sócios
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